quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Sindicato de atletas: "Homem Picanha" ofendeu Corinthians

Ana Cláudia Barros.

Atualizada às 15h45

O Sindicato dos Atletas Profissionais do Estado de São Paulo (SAPESP) anunciou que vai interpelar judicialmente o dançarino de funk Ademilson Silva, conhecido como "Homem Picanha", para que ele comprove a veracidade da afirmação de que teria um caso com um jogador titular do Corinthians. A declaração, veiculada na última segunda-feira (3), no programa CQC, da TV Bandeirantes, provocou desconforto no elenco do time paulistano, conforme deixa claro nota divulgada pelo sindicato sobre o caso.

Segundo o texto, a entidade foi acionada por jogadores para que "tomasse providências acerca da defesa da imagem e da honra coletiva dos atletas".

- Em vista de tais fatos, alguns atletas do S.C. Corinthians Paulista que são heterossexuais, casados e com filhos, tiveram uma repercussão em suas famílias e pelos próprios órgãos de imprensa. Sendo incitados a disporem acerca de suas opções sexuais - diz a nota, assinada por Luis Eduardo Pinella, presidente em exercício do SAPESP, que apontou, entre as justificativas da ação, proibir que o "assunto homossexualidade seja tratado com deboche, incitando o preconceito aos homossexuais".

Em entrevista a Terra Magazine, o advogado do SAPESP, Washington Rodrigues, detalhou como foi a abordagem:

- Fomos procurados por alguns atletas do Corinthians que se sentiram incomodados. Acabaram pairando dúvidas sobre todos os atletas do elenco. Há pessoas casadas, com filhos. Na escola, as crianças acabam brincando. Sabendo que o pai do menino é jogador, fica uma situação extremamente desagradável. Acho que a opção sexual é um direito de cada um. Cabe à pessoa saber se quer alardear ou não - relatou, sem revelar nomes.

Rodrigues negou que há na nota um tom preconceituoso - no trecho em que fala sobre "defesa da imagem e honra coletiva dos atletas" - e ressalta que um "direito individual não pode afrontar um direito coletivo". O advogado explicou o que o sindicato pretende com a interpelação judicial do "homem picanha":

- Que diga se tem um relacionamento com a pessoa X ou Y. Um direito de um não pode afetar o direito de uma coletividade. Não é confrontar, dizer que a pessoa se sente prejudicada por ser chamada de homossexual. Não é isso. Acho que a questão da opção sexual de cada pessoa não reflete diretamente na questão de honra, imagem. Só quando se utiliza isso com sarcasmo, como foi utilizado.

O discurso, entretanto, soa contraditório quando o representante do sindicato interpreta a afirmação feita pelo dançarino de Funk como uma "ofensa coletiva".

Confira a entrevista.

Terra Magazine - O Sindicato dos Atletas Profissionais do Estado de São Paulo vai interpelar judicialmente o "homem picanha", a pedido dos jogadores de Corinthians. O que vocês pretendem exatamente? Que tipo de ação vai ser?
Washington Rodrigues -
A princípio, o que se deve fazer é uma interpelação judicial para que a pessoa se apresente e preste esclarecimentos. Que diga se tem um relacionamento com a pessoa X ou Y. Um direito de um não pode afetar o direito de uma coletividade. Não é confrontar, dizer que a pessoa se sente prejudicada por ser chamada de homossexual. Não é isso. Acho que a questão da opção sexual de cada pessoa não reflete diretamente na questão de honra, imagem. Só quando se utiliza isso com sarcasmo, como foi utilizado.

Foi todo o elenco do Corinthians que procurou o sindicato?
Foram alguns jogadores. Não queremos citar nomes por se tratar de uma situação extremamente complicada. Como não é uma imagem individual, porque se fosse um atleta só, estaríamos falando de imagem individual. Como foram vários, foi colocado em discussão todo o grupo, você entra na questão da imagem coletiva, que diz respeito à atuação maior do sindicato.

Vocês querem que o "Homem Picanha" confirme a veracidade de suas informações. Mas, caso confirmada, essa informação não deixaria o jogador em questão mais exposto?
Olha, aí tem aquele lado... Se a pessoa é ou não é, não cabe a gente julgar. É uma opção dela. Só que um direito individual não pode afrontar um direito coletivo. Temos dois direitos em confronto: o direito de alguém que é homossexual e supostamente tem um relacionamento com uma pessoa e o direito de um grupo, de uma coletividade que está sendo exposta a uma situação com base numa pessoa que supostamente tem uma relação. Então, é o que chamamos de princípio da proporcionalidade. Temos dois direitos em confronto. O individual e o coletivo. Qual direito deve se sobrepor a isso? Essa é a questão que colocamos. Não é a opção dele.

Vamos supor que a afirmação do "Homem Picanha" seja verdadeira. Ele faz a revelação que é o jogador X. Logicamente, vocês não vão divulgar isso porque iria expor o atleta.
Não, não. Exato.

De que maneira então essa revelação poderia beneficiar os demais jogadores, sendo que ela não será divulgada?
Olha, aí, a gente precisa pensar no pós, né?! O sindicato não pode ficar inerte numa situação. Quando você fala em imagem coletiva...Por exemplo: todos os advogados são ladrões ou todos os repórteres ganham propina para publicar notícia. Eu não ganho, então, você vai ter que divulgar as pessoas que fazem isso. Tem que pontuar. O que não pode ocorrer é colocar em dúvida pessoas... A pessoa tem o direito de ser homossexual. Agora, também tem o direito de ser heterossexual.

Na nota, a SAPESP destaca sua posição a favor da diversidade sexual e anuncia que irá ingressar com as medidas administrativas e judiciais cabíveis, visando proibir também que o "assunto homossexualidade seja tratado com deboche, incitando o preconceito aos homossexuais". Mas ao mesmo tempo, a nota destaca que a "honra e imagem coletiva dos atletas" do Corinthians foram atingidas por conta da ilação feita pelo "homem picanha". Não há um contrassenso? Não passa a ideia de que ser homossexual pode macular a honra da pessoa?
Não, não. É igual falar que um homossexual é heterossexual. Ele pode se sentir atingido com base nisso. Se eu falar que o presidente da associação dos homossexuais é hétero, ele pode se sentir atingido com base nisso. É aquele lado: eu falar que um negro é branco, um branco é negro. Então, você deturpa situações. Essa rua tem dois viéses: o de ida e o de volta. A partir do momento que a pessoa tem direito de ser diferente, a pessoa tem o direito de ser igual também. É uma situação extremamente delicada. Se pensou muito nisso. O que foi colocado não é a opção sexual da pessoa. É tratar isso como deboche. "Olha, eu tô pegando um jogador do Corinthians". Se está ou não, dê os nomes. "Estou saindo com fulano, com beltrano..." A opção sexual é de cada um.

Caso se comprove que a declaração do "Homem Picanha" não é verdadeira, o que vocês pretendem fazer?
Aí, você entra com uma indenização por danos morais, até pela ofensa coletiva que existe aí. Até a própria emissora de televisão acaba sendo responsabilizada por isso. Alardeou uma situação que, em se provando ser falsa, acaba repercutindo também na questão da emissora.

Terra Magazine

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