Não é possível ficar calado diante de tantas atrocidades cometidas pela Direção Nacional do PV nos últimos tempos. Primeiro prorrogam o mandato do Presidente Nacional para que ele chegue ao 13º ano seguido no poder. Além disso, se recusam a perceber a necessidade de melhorias ao PV e passam a cometer brutalidades com os que querem debater, apresentar propostas, dialogar sobre o caminho.
Como podemos construir um partido sem que possamos buscar aprimorar a sua estrutura?
O estatuto do PV diz que o partido "tem como objetivo alcançar o poder político institucional, de forma pacífica e democrática, em suas diversas instâncias, para aplicar e propagar o seu Programa". Será que a direção do PV quer mesmo se preparar para alcançar o poder nas diversas instâncias e aplicar o seu programa? Talvez achem mais fácil ficar como está, pois geralmente grandes desafios exigem alguma abdicação ou mudança e pode não ser conveniente para alguns saírem da zona de conforto que o status quo proporciona. Infelizmente dessa maneira não vejo como o PV avançar.
O cancelamento da Executiva Estadual de São Paulo foi o ultraje maior, o resumo do modus operandi que assola o Partido Verde nos últimos tempos. Como justificar cancelar o local onde o PV foi mais bem sucedido no país? Como explicar racionalmente que o maior exemplo de sucesso do PV nos estados do Brasil não é mais válido?
A Direção Nacional do Partido Verde parece seguir uma lógica perversa: quanto pior melhor. Só assim pra entender como cancelam a Executiva Estadual do PV São Paulo - que obteve mais de 8% dos votos válidos para a Câmara Federal em 2010 - e mantém a do PV Ceará, que obteve pífios 11.564 votos nominais para deputado federal, num universo de 4,2 milhões de votantes. Se somarmos aos votos de legenda (que foram mais do que os nominais) chegaremos ao fantástico índice de 0,6% do total dos votos. Foi isto que o PV Ceará obteve: um vexame. Faço questão de ressaltar a qualidade dos candidatos a deputado federal, que se esforçaram e deram o melhor de si; o problema foi a condução do processo pela direção estadual: não havia foco, metas claras, tampouco interesse em eleger um Verde à Câmara dos Deputados.
Pra não dizer que só falamos de números, na carta programática do partido, está explícito no primeiro item que "o PV é um instrumento da ecologia política. Sua existência não é um fim em si mesmo e só faz sentido na medida em que sirva para fazer avançar suas idéias e programa na sociedade transformando concretamente a realidade". Será que no Ceará, por exemplo, o partido tem atuado para avançar suas idéias e transformar concretamente a realidade?
O que dizer de um estado que nomeia Comissões Municipais com prazo de vigência de apenas 6 meses? Como se constrói um projeto político em 6 meses? Isso é completamente ilegal perante o estatuto, é uma imoralidade.
Como vão incentivar as pessoas de bem a se filiarem ao PV, organizarem Comissões Municipais e pleitearem candidaturas se a qualquer momento - a qualquer momento mesmo - as Comissões podem ser canceladas de acordo com a vontade da caneta do presidente, seja para entregar para um familiar, um amigo ou para alguém que ofereça uma 'opção' mais conveniente? E “ai” de quem argumentar. Não se faz política dessa maneira, não é esse o partido que a sociedade espera. O PV não pode ser um blefe.
Como falar em democracia se ao menor sinal de questionamento expurgam quem não é adepto da prática do "sim, senhor"? Belo exemplo de como um grupo assim pode governar algum lugar. Sobra autoritarismo e falta direção.
Penso que em toda estrutura, sejam em empresas, governos e demais instituições, a importância do 'ouvir' é imensa. A atual direção do PV demonstra não ter compreendido a voz da sociedade, a necessidade de um partido que dialogue, que seja exemplo, que construa pontes e não muros. Esse é um recado muito forte que ecoa por onde passamos, Penna que os Manda-Chuvas não assimilaram essa mensagem.
Acho que estamos entrando numa nova era da Bruzundanga. Na conhecida obra póstuma de Lima Barreto, uma ficção repleta de realidade, acompanhamos a história de um país abarrotado de favorecimentos, privilégios e pensamentos retrógados. Na Bruzundanga há um apego obsessivo por títulos, além de uma carta magna absurda cujo adendo maior é: "toda a vez que um artigo ferir interesses de parentes de pessoas da situação ou de membros dela, fica entendido que não tem aplicação". Há um flerte constante com a 'situação' porque ela garante o continuísmo.
A quem interessa continuar com o PV assim?
A moda mais recente dos que querem criticar a luta pela democracia no PV é ameaçar nos processar. Dizem que estamos atentando contra a "boa imagem partidária". Boa imagem? Que imagem? Querer debater uma reformulação para tornar o partido verdadeiramente aberto é atentar contra a imagem do PV? Querer construir um partido melhor e - da mesma forma que falamos durante toda a campanha - nos colocar a disposição para ouvir a sociedade é atentar? Que sejamos presos, então, se for isso.
Nós queremos um partido democrático pra poder olhar para as pessoas e saber que o que falamos é o que praticamos em nossa casa política. Não entendo como o PV pode se propor a ser um partido monopolizado por meia dúzia de privilegiados, entronizado na burocracia oficial, cuja vida é artificial e sem conexão com as bases. O PV não pode se subjugar ao papel de coadjuvante. Chegou o momento de decidir se o partido merece não estar nem à esquerda nem à direita, mas à frente.
Está na hora de escolher se é pra avançar ou retroagir. Está na hora de ser protagonista, meu povo! Ou alguém prefere viver na Bruzundanga?
Paulo Sombra (paulosombra@superig.com.br)
Conselheiro Nacional - PV
Ex-dirigente Estadual - PV Ceará
Nenhum comentário:
Postar um comentário