Anjos nos acompanham. Há aqueles que vivem em casa e outros pelas ruas da cidade; há os que são permanentes e outros que surgem de repente; há os que ficam outros vão embora; há os calados, outros sorridentes; os que nos carregam no colo, os que nos pegam pela mão.
Os anjos nos conduzem para além da esquina. A curva é muito perigosa, mas há sempre anjos por lá. Como descrevê-los? Pequeninos seres, de onde vieram? Fico a pensar: qual casa habita, em que leito dorme, o que esconde em seu pensamento, meu doce anjo!
Não quero ouvir o mandamento do ‘anjo torto’ de Drummond, nem do ‘anjo safado e chato’ de Chico Buarque, nem do ‘anjo esbelto’ de Adélia Prado. Aprecio com mais entusiasmo o anjo de carne e osso, o que usa camisa e calça jeans. Anjos sem asas, parecidíssimos comigo e com você.
A vida de um anjo nos surpreende. Um reinado de disponibilidade desfila com seu clarão de luz. É assim que um anjo é conduzido, pela luminosidade. A gratuidade de seus gestos nos seduz. Anjos peraltas que nos sequestram do perigo. Às tormentas, os anjos trazem calmaria. São escudeiros da noite e do dia. Transitam pelas nossas vias, colorindo a pálida rotina.
Uma ação de generosidade e talvez de atenção conte muito para o outro. Coisas simples, mas raras; quando alguém as pratica, recebe o nome de anjos, “você é um anjo que caiu do céu”, diz alguém. Ser anjo é coisa desse mundo, sim. Eles estão perto de nós.
Há tantos por aí, vagando incerto. Ah, se pudéssemos identificar os anjos, saber a revelação dos seus segredos. Mas o nosso olhar adormece nas improvisações do cotidiano. A percepção foge para longe, esvai-se como a fumaça das chaminés. Um anjo apreende o mundo. Espere um pouco, anjo sem cor, sem odor, sem partido, vem ficar comigo.
Socorro Pinheiro.
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