quinta-feira, 30 de abril de 2009

INTERNAÇÕES


Anastácio Queiroz alertou que está faltando, no Ceará, medicamento para tratar o vírus causador da gripe

Em entrevista ao Diário do Nordeste, na manhã de ontem, o infectologista Anastácio Queiroz diretor do Hospital São José de Doenças Infecciosas (uma das 51 unidades de saúde brasileiras preparadas para atender eventuais casos de gripe suína, segundo o Ministério da Saúde), disse que não há leitos hoje disponíveis no hospital apenas à espera de possíveis pacientes da influenza.

“Nós não temos condições de reservar leitos. Agora, chegando uma pessoa com essa gripe, a gente tem como adequar. Estamos sempre cheios, mas daremos prioridade aos doentes mais graves”, disse.

O médico infectologista informou, ainda, que está faltando, no Ceará, medicamento para tratar o vírus causador da gripe. “Para uma pandemia, não teríamos estrutura para atender todo mundo”.

Sobre a falta de medicamentos, o especialista disse acreditar que a Secretaria da Saúde do Estado deve estar se articulando com o Ministério da Saúde para resolver a questão. “Tinha medicamento, mas venceu, porque não foi usado. Inclusive, aqui no Hospital São José, nós não temos”.

Queiroz alerta para o risco de faltar medicação se todo mundo resolver comprá-la para se prevenir. Segundo ele, isso pode, mais adiante, prejudicar quem realmente precisa. “As secretarias de Saúde, os hospitais e os demais órgãos responsáveis devem ter o remédio, para fornecê-lo gratuitamente quando necessário”. Na avaliação dele, o fato de os Estados Unidos estarem “extremamente preparados” para combater a doença deve tranqüilizar a população cearense.

Internação

Como exemplos de espaços que podem ser usados como áreas de isolamento no hospital para receber vítimas da gripe suína, ele citou dois apartamentos e uma das alas da unidade de saúde. Além disso, existem seis leitos, hoje ocupados, de pressão negativa, sendo dois deles na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e quatro em apartamentos. Estes espaços impedem que o ar existente dentro deles saia, evitando o risco de contaminação.

Para o diretor do Hospital São José, só se deve internar quem de fato tem indicação para isso. Ou seja, pessoas que precisam de hidratação ou medicação venosa, oxigênio ou outro tipo de procedimento que não possa ser feito em casa. “Se ele estiver só com tosse, espirros, os exames devem ser feitos. Mas, caso não haja indicação de internação, deve ser liberado para casa”. O infectologista advertiu que é preciso também que o sistema público de saúde ofereça um acompanhamento para essa pessoa.

“Se avalio esse indivíduo, converso com a família, dou máscara para ele e os familiares, o paciente pode ficar em casa, sem risco para outras pessoas. Agora, se deixo no hospital, vai ter de ficar isolado, com máscara etc. Uma situação muito desconfortável”, comparou o médico.

Paciente

Anastácio Queiroz disse, ainda, que não há, no Estado, nenhum paciente com sintomas claros da doença. “Não temos conhecimento disso. O que se vê são pessoas que recentemente chegaram do hemisfério norte, especialmente dos Estados Unidos, procurando seus médicos para saber quais os reais riscos de estarem infectadas. Na verdade, o que há é muita precaução”, avaliou.

Além do São José e do Hospital Universitário Walter Cantídio (Hospital das Clínicas), Queiroz disse acreditar que o Hospital Waldemar Alcântara teria condições de ajudar na internação de doentes.

Ainda no fim da manhã de ontem, a direção do Hospital São José se reuniu com os demais médicos da unidade de saúde para alinhar o discurso em torno do tema e tentar evitar que a população fique confusa. “É uma reunião interna. Vamos conversar para que todos usem a mesma linguagem quando falarem do assunto”, garantiu Queiroz.

Também estiveram presentes representantes da Secretaria da Saúde do Estado, da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e do Laboratório Central de Saúde Pública (Lacen).

AEROPORTO PINTO MARTINS
Passageiros de Atlanta estavam tranqüilos

O vôo que chegou ontem de manhã de Atlanta, nos Estados Unidos, não trouxe muitos passageiros apreensivos com a possível chegada da gripe suína ao Brasil. Segundo viajantes que desembarcaram no Aeroporto Internacional Pinto Martins às 8h30 dessa quarta-feira, ninguém da tripulação usava máscaras ou luvas e apenas um passageiro viajou com a proteção no rosto.

Demonstrando certa tranqüilidade, os passageiros afirmaram que a preocupação está maior no Brasil do que nos Estados Unidos. No aeroporto, funcionários de lojas e quiosques se mostram temerosos com o contato direto com viajantes vindos do exterior.

De acordo com informações repassadas no escritório da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) do Pinto Martins, a aeronave que veio de Atlanta foi inspecionada sob supervisão de fiscais do órgão e logo liberada, porque não apresentou problemas ou passageiros com suspeita da doença. De todo modo, o avião passou por limpeza para extinguir qualquer risco de infecção.

Segundo a assessoria de imprensa da Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero), a parte que cabe à empresa pública está sendo cumprida, que é divulgar, no sistema de som, mensagens de alerta a profissionais do espaço e usuários dos serviços de vôo. O aviso sonoro anuncia que passageiros oriundos do Reino Unido, do México, Estados Unidos e Espanha, nos últimos dez dias, e que apresentem sinais de febre súbita e dores no corpo devem procurar a unidade da Anvisa no Pinto Martins.

Nos guichês de companhias aéreas, nas lanchonetes, em lojas de artesanato, no balcão de informações, entre os seguranças ou nas inspeções de embarque e desembarque, ontem de manhã ninguém usava máscaras. Apenas alguns transeuntes, em especial pessoas que estavam indo pegar pessoas que chegaram a Fortaleza pela manhã, portavam as proteções devidamente colocadas na face.

Na opinião da atendente de loja localizada em frente ao portão de desembarque internacional, Lorena Albuquerque, não faz sentido uma ou outra pessoa usarem máscara, se há pessoas que trabalham o dia ou a noite toda no aeroporto e ficam constantemente expostas ao risco de contaminação.

“Hoje chegaram dois americanos que ficaram espirrando, mas de brincadeira, como se fosse para assustar a gente. Isso não pode. É uma falta de respeito”, reclama. A também atendente Jane Nóbrega antecipa que, se a Anvisa não distribuir máscaras para quem está no aeroporto, principalmente trabalhando, amanhã vai comprar uma caixa com os protetores. “Com o ar-condicionado e muitas pessoas circulando, a gente fica exposta a tudo”.

Para o aposentado José Pereira de Paiva, de 75 anos, que chegou ontem de temporada de 60 dias nos estados norte-americanos da Virgínia e Washington, lá quase não se ouve comentário acerca da gripe suína. Da mesma opinião eram passageiros que estavam nos estados de Nevada, Flórida e Califórnia, o que prova que, na chegada desse vôo de Atlanta, a apreensão era maior entre quem esperava passageiros do que entre quem chegava.

A aposentada Solange Neves, de 62 anos, até poucos dias atrás estava gripada, mas se mostrava tranqüila com a situação. Ela chegou ontem a Fortaleza, após passar 12 dias.

No Porto do Mucuripe, nenhum funcionário utilizava máscaras ou luvas na manhã de ontem. O mesmo pôde ser constatado na sede da Companhia Docas, onde alguns trabalhadores se mostraram apreensivos, uma vez que diariamente chegam navios ou cargas vindas de outros países.

EM FORTALEZA
Antiviral Tamiflu está em falta nas farmácias

Quem procurar pelo medicamento Tamiflu 75 mg vai perder tempo. O antiviral está em falta na cidade. Ele é o único recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) contra o vírus da gripe suína e, por este motivo, a procura pelo remédio aumentou nos últimos dias na Capital cearense. A demanda também aumentou pelas máscaras. O estoque, nesse caso, ainda é grande e não causa preocupação.

Nas quatro grandes redes, a Pague Menos, Extrafarma, Dose Certa e FarmaNossa, o Tamiflu sumiu das prateleiras. “Nunca vi tanta procura por um medicamento como está acontecendo com este”, reconhece uma funcionária da Pague Menos, que possui pelo menos, 130 lojas em Fortaleza. Uma outra vendedora conta que, somente no período da manhã de ontem, recebeu 20 pedidos do remédio. “Expliquei que está em falta e não sabemos quando chegará”, conta ela.

O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Estado do Ceará (Sincofarma), Maurício Filizola, explicou que a procura se deve porque as pessoas querem se proteger, principalmente, àquelas que têm viagem marcada para fora do Brasil.

O remédio é vendido somente com receita médica e, mesmo assim, conta o balconista da FarmaNossa, muita gente tenta comprar explicando que pretende viajar. Cada unidade do medicamento custa, em média, R$ 139,88, com dez comprimidos. “O remédio é caro, mas as pessoas estão ignorando pelo medo da gripe”, avalia um funcionário.

A Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) garante que possui estoque suficiente para enfrentar uma possível pandemia da doença no Ceará. No entanto, informa sua assessoria de imprensa, que já foi solicitado ao Ministério da Saúde mias remessa da medicação.

Brasil

O Ministro da Saúde, José Gomes Temporão, disse, ontem, que o Brasil tem matéria-prima para produzir medicamentos para o tratamento de até 9 milhões de pacientes contaminados com o vírus da gripe suína. Informou que o governo optou por comprar o medicamento não processado porque a validade é maior.

De acordo com Temporão, o Ministério da Saúde tem medicamentos para realizar 6.250 tratamentos em adultos e outros 6.250 para tratamentos pediátricos. O secretário de Vigilância em Saúde, Jerson Penna, ressaltou, ainda, que somente um dos laboratórios das Forças Armadas tem capacidade para produzir 300 mil medicamentos por dia.

Ontem, o Ministério da Saúde confirmou a existência de dois casos suspeitos da doença no país. Outras 36 pessoas que apresentaram sintomas estão sendo monitoradas após retornarem de países onde há casos confirmados.

Até ontem, foram confirmados 148 casos da doença em todo o mundo e a Organização Mundial de Saúde (OMS ) elevou o nível de alerta para o grau 5, em uma escala de alerta para a gripe suína que vai de um a seis, o que significa o aumento no risco de uma pandemia (epidemia de vasto alcance geográfico, talvez global).

LUDMILA WANBERGNA, MARTA BRUNO E LÊDA GONÇALVES
Repórteres

ENQUETE
Pessoas apresentam comportamento diferente

"Todos lá em casa (nos Estados Unidos) estavam gripados, mas era só tosse e espirro. Ninguém teve febre"
Solange Neves
62 ANOS
Aposentada

"Estamos à mercê de uma contaminação, porque trabalhamos no aeroporto e temos contato direto com pessoas do exterior"
Jane Nóbrega,
32 ANOS
Atendente

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