Há uma crença de que a humanidade sempre viveu sob o véu de alguma divindade mitológica ou lendária: Édipo, Prometeu, Sísifo. A nossa geração se reconhece em Narciso. Existe uma tendência a olhar cada vez mais para si mesmo e menos para o outro.
A indiferença parece ser a palavra de ordem da sociedade pós-moderna. Em muitas situações o homem é visto como objeto, máquina, uma coisa qualquer; menos, como pessoa. Há um centralismo nos interesses, naquilo que trará benefícios. A pessoa não importa, os negócios sim. O capitalismo desfila solenemente.
Era do corpo reciclado, do consumismo desenfreado, dos espetáculos sensacionalistas, das aberrações televisivas, dos investimentos narcisísticos. Roubaram a nossa face. Sensação de aniquilamento numa época em que a tecnologia avança assustadoramente. Qual o nosso ideal de vida? Em quem confiar? O que é válido? Em que o homem acredita e no que ele investe?
Conversar com o outro, quase não há espaço, não há tempo. Escuto alguém dizer que hoje o chefe não atende a ninguém. Mas eu preciso lhe falar, insisto. Venha depois, marque horário, diz a voz. Acabo de ser incluída na categoria dos que não existem. NINGUÉM - pronome indefinido, considerado de modo vago e indeterminado. O ninguém pode ser alguém. Sequestraram minha identidade e não me avisaram. O resgate, ah...! Não há como pagar.
O mundo moderno inventa a cada dia uma moda diferente. Banalidades tornam-se coisas importantes. Todos os gostos coabitam-se, tudo é permitido, efêmero, apático. Campo propício e vertiginoso para o reinado da exploração e experimentação. O homem se afoga na solidão dos sonhos. Será que ainda é permitido sonhar? Só depende de você.
Ainda há tempo para o amor, templo sagrado. Ainda há tempo para a poesia, eterno bálsamo, alegria de minhas horas. Para a natureza, reveladora da fé no pássaro que canta não mais prisioneiro. A vida é mirar no espelho e ver o outro. E como diz o poeta: “basta estenderes o braço e tocar no ombro do teu vizinho”.
Socorro Pinheiro.
Texto escrito pela Professora da UECE, Socorro Pinheiro, publicado no jornal A PRAÇA de Iguatu.
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