Na vila baú, comunidade da zona rural do município de Iguatu, a tradição de celebrar São José é mantida há 114 anos. Faz parte da memória dos moradores. Ontem, eles participaram de uma missa realizada na Capela do Baú
HONÓRIO BARBOSA
Cerca de 150 homens carregaram o pau da bandeira, hasteado por um guindaste no início das festividades
CLÁUDIA VIDAL
A COMUNIDADE DE CUSTÓDIO, em Quixadá, homenageou seu padroeiro com procissão e missa ao amanhecer
ALEX PIMENTEL
20/3/2010
Mesmo diante das poucas chuvas, os cearenses, ontem, esperançosos, louvaram ao padroeiro do Estado
Iguatu. Há 114 anos, a tradição de celebrar São José é mantida na Vila Baú, zona rural deste município. É uma celebração que faz parte da memória dos moradores da comunidade. A devoção centenária se renova a cada ano. Os mais jovens acompanham pais e avós e recebem deles os ensinamentos cristãos, a fé no pai adotivo de Jesus Cristo. São José é padroeiro do Ceará e é um dos santos mais festejados, em dezenas de paróquias e centenas de capelas. Há dez anos foi instituído pelo então bispo, dom José Doth, padroeiro da Diocese de Iguatu. Há uma mística popular entre o sertanejo e o santo. Para o agricultor, a data assinala a última esperança de boas colheitas, quando as chuvas estão raras e tardias. O costume manda esperar até o dia de ontem, para se saber se haverá ou não "inverno" no sertão cearense.
Ontem, pela manhã, não choveu no Centro-Sul, mas, na noite anterior, ocorreu uma precipitação que, de um certo modo, renovou as esperanças dos agricultores. Este ano, o quadro de seca se desenha e ameaça o sertanejo. O dia dedicado a São José foi de muitas orações e súplicas para chover no sertão. A lavoura de milho e feijão está se perdendo, muitos sequer plantaram porque a terra permanece seca e já há ameaça de escassez de água para o abastecimento humano e dos animais.
Na comunidade de Baú, durante todo o mês de março, são celebradas novenas sempre a partir das 19 horas, para homenagear o santo. Os homens puxam os cânticos, orações e ofícios, que são acompanhados por mulheres e crianças, desde cedo levando adiante a devoção mantida pelos pais.
Construção
A Capela do Baú foi construída no fim do século XIX, em 1896, pelo agricultor José Alves de Oliveira, como forma de pagamento de uma promessa a São José. A mulher dele, Clara Alves de Oliveira, enfrentava enormes dificuldades na hora do parto de um dos filhos. "Corria risco de morte", lembra a neta e coordenadora do novenário, Zenalda Nogueira. As preces ao santo, pai adotivo de Jesus, foram intensas e o parto foi bem sucedido. "Era uma época em que muitas mulheres morriam em consequência de parto", lembra Zenalda Nogueira. "Não havia condições de realizar cirurgia e nem na cidade de Iguatu existia hospital. O parto estava mesmo nas mãos de Deus e das parteiras".
Em sinal de graças, José Alves de Oliveira mandou erguer a capela e iniciou, no mesmo ano, um mês de celebrações, novenas e missas, cuja tradição é mantida hoje. A construção da capela foi sinal da fé e devoção, de um homem simples do sertão, em São José, um dos santos mais populares da Igreja. "São exemplos que precisam ser preservados porque fazem parte da nossa história cristã e da família", observa o veterinário e bisneto do construtor da capela, Mauro Nogueira. Quem conhece a história do lugar e participa dos festejos sabe que há forte sentimento religioso popular.
O padre Lázaro Augusto, pároco da Matriz de Senhora Sant´Ana, celebrou a missa na comunidade, ontem pela manhã. A liturgia no dia de São José atrai moradores não só do Baú, mas de comunidades e sítios vizinhos que participam para louvar o santo. "É um dia de festa para agradecer e renovar os pedidos a Deus e a São José", disse o sacerdote. Neste ano, mais pedidos do que agradecimento, pois as chuvas estão escassas.
Para os moradores do Baú, após 114 anos, não há como deixar o Dia de São José passar em branco. "É uma tradição das nossas famílias", disse o agricultor José de Souza. Na comunidade, muitos foram batizados com o nome de José e há, na celebração, momento dedicado aos xarás do padroeiro, com uma bênção especial.
Na Catedral de São José, em Iguatu, o novenário, celebrado há dez anos, lotou o templo de fiéis. Ontem, houve missa solene de encerramento, celebrada pelo bispo da Diocese, dom João Costa, e procissão com o andor do santo pelas ruas da cidade. Na Diocese de Iguatu, a paróquia de Catarina também celebra São José. O mesmo ocorre em dezenas de comunidades rurais que têm o santo como padroeiro por todo o Ceará.
Em Iguatu, ocorreu celebração dedicada ao padroeiro do Ceará nas comunidades de Gadelha, Barreira dos Pinheiros, Serrote e Baú. Outra festa tradicional aconteceu no distrito de São José, em Solonópole, que pertence à Diocese de Iguatu. Neste ano, comemorou-se 100 de fundação da igreja e devoção ao santo. A missa solene foi presidida pelo bispo emérito, dom José Mauro, com participação do padre Ricardo Ferreira.
Tradição
"Celebrar São José é manter viva nossa tradição, fé e esperança do nosso povo"
Zenalda Nogueira, Neta do fundador da Capela do Baú
"A festa faz parte da história das nossas famílias e desde criança que eu participava"
José de Souza, Agricultor
MAIS INFORMAÇÕES
Fazenda Baú
(88) 3582. 2018
Cúria Diocesana de Iguatu
(88) 3581.0263
Honório Barbosa
Repórter
Iguatu. Há 114 anos, a tradição de celebrar São José é mantida na Vila Baú, zona rural deste município. É uma celebração que faz parte da memória dos moradores da comunidade. A devoção centenária se renova a cada ano. Os mais jovens acompanham pais e avós e recebem deles os ensinamentos cristãos, a fé no pai adotivo de Jesus Cristo. São José é padroeiro do Ceará e é um dos santos mais festejados, em dezenas de paróquias e centenas de capelas. Há dez anos foi instituído pelo então bispo, dom José Doth, padroeiro da Diocese de Iguatu. Há uma mística popular entre o sertanejo e o santo. Para o agricultor, a data assinala a última esperança de boas colheitas, quando as chuvas estão raras e tardias. O costume manda esperar até o dia de ontem, para se saber se haverá ou não "inverno" no sertão cearense.
Ontem, pela manhã, não choveu no Centro-Sul, mas, na noite anterior, ocorreu uma precipitação que, de um certo modo, renovou as esperanças dos agricultores. Este ano, o quadro de seca se desenha e ameaça o sertanejo. O dia dedicado a São José foi de muitas orações e súplicas para chover no sertão. A lavoura de milho e feijão está se perdendo, muitos sequer plantaram porque a terra permanece seca e já há ameaça de escassez de água para o abastecimento humano e dos animais.
Na comunidade de Baú, durante todo o mês de março, são celebradas novenas sempre a partir das 19 horas, para homenagear o santo. Os homens puxam os cânticos, orações e ofícios, que são acompanhados por mulheres e crianças, desde cedo levando adiante a devoção mantida pelos pais.
Construção
A Capela do Baú foi construída no fim do século XIX, em 1896, pelo agricultor José Alves de Oliveira, como forma de pagamento de uma promessa a São José. A mulher dele, Clara Alves de Oliveira, enfrentava enormes dificuldades na hora do parto de um dos filhos. "Corria risco de morte", lembra a neta e coordenadora do novenário, Zenalda Nogueira. As preces ao santo, pai adotivo de Jesus, foram intensas e o parto foi bem sucedido. "Era uma época em que muitas mulheres morriam em consequência de parto", lembra Zenalda Nogueira. "Não havia condições de realizar cirurgia e nem na cidade de Iguatu existia hospital. O parto estava mesmo nas mãos de Deus e das parteiras".
Em sinal de graças, José Alves de Oliveira mandou erguer a capela e iniciou, no mesmo ano, um mês de celebrações, novenas e missas, cuja tradição é mantida hoje. A construção da capela foi sinal da fé e devoção, de um homem simples do sertão, em São José, um dos santos mais populares da Igreja. "São exemplos que precisam ser preservados porque fazem parte da nossa história cristã e da família", observa o veterinário e bisneto do construtor da capela, Mauro Nogueira. Quem conhece a história do lugar e participa dos festejos sabe que há forte sentimento religioso popular.
O padre Lázaro Augusto, pároco da Matriz de Senhora Sant´Ana, celebrou a missa na comunidade, ontem pela manhã. A liturgia no dia de São José atrai moradores não só do Baú, mas de comunidades e sítios vizinhos que participam para louvar o santo. "É um dia de festa para agradecer e renovar os pedidos a Deus e a São José", disse o sacerdote. Neste ano, mais pedidos do que agradecimento, pois as chuvas estão escassas.
Para os moradores do Baú, após 114 anos, não há como deixar o Dia de São José passar em branco. "É uma tradição das nossas famílias", disse o agricultor José de Souza. Na comunidade, muitos foram batizados com o nome de José e há, na celebração, momento dedicado aos xarás do padroeiro, com uma bênção especial.
Na Catedral de São José, em Iguatu, o novenário, celebrado há dez anos, lotou o templo de fiéis. Ontem, houve missa solene de encerramento, celebrada pelo bispo da Diocese, dom João Costa, e procissão com o andor do santo pelas ruas da cidade. Na Diocese de Iguatu, a paróquia de Catarina também celebra São José. O mesmo ocorre em dezenas de comunidades rurais que têm o santo como padroeiro por todo o Ceará.
Em Iguatu, ocorreu celebração dedicada ao padroeiro do Ceará nas comunidades de Gadelha, Barreira dos Pinheiros, Serrote e Baú. Outra festa tradicional aconteceu no distrito de São José, em Solonópole, que pertence à Diocese de Iguatu. Neste ano, comemorou-se 100 de fundação da igreja e devoção ao santo. A missa solene foi presidida pelo bispo emérito, dom José Mauro, com participação do padre Ricardo Ferreira.
Tradição
"Celebrar São José é manter viva nossa tradição, fé e esperança do nosso povo"
Zenalda Nogueira, Neta do fundador da Capela do Baú
"A festa faz parte da história das nossas famílias e desde criança que eu participava"
José de Souza, Agricultor
MAIS INFORMAÇÕES
Fazenda Baú
(88) 3582. 2018
Cúria Diocesana de Iguatu
(88) 3581.0263
Honório Barbosa
Repórter
Fonte: Diário do Nordeste.
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