Revitalizar dessalinizadores no Interior é uma das metas do governo para ampliar a oferta de água
Fortaleza Dos 171 dessalinizadores instalados em municípios cearenses, 34 deixaram de funcionar por falta de manuseio ou devido à depredação, ficando inviáveis para ao conserto. O número equivale a cerca de 20% do total de equipamentos, que somam agora somente 137 máquinas, instaladas em 30 municípios do Interior.
Como forma de melhorar a utilização dos equipamentos pelas famílias sertanejas, o Governo do Estado, por meio da Superintendência de Obras Hidráulicas da Secretaria de Recursos Hídricos (Sohidra), investiu, entre 2008 a 2010, o equivalente a mais de R$ 6 milhões na manutenção dos dessalinizadores. Somente o ano de 2007 não foi registrado nenhum investimento no setor porque, como informou a Assessoria de Imprensa da Sohidra, era mudança de governo e não havia um relatório sobre a condição das máquinas.
Dos três anos apontados, o que mais recebeu investimento foi o de 2009, com R$ 3.459.637,51. Para este ano, os recursos somam apenas R$ 480 mil. Essa diminuição se deve, principalmente, por já ter atendido à demanda dos anos anteriores, tanto no que se refere à revitalização de equipamentos ou compra de novos.
Outros dessalinizadores serão instalados em diferentes comunidades rurais do Estado. Cada novo aparelho tem um custo que varia de R$ 40 mil a R$ 80 mil, dependendo da vazão de água, podendo ser de 400, 800, 1.200 ou 1.800 litros por hora.
Além dos equipamentos já existentes, a Sohidra promove a instalação de mais 64 equipamentos em 37 cidades e melhoramento das estruturas onde ficam instalados os equipamentos. Assim que for concluído, o Ceará passa a contar com 201 dessalinizadores. De acordo com o geólogo e gerente da Sohidra, Demócrito Gomes, há quatro anos foi iniciado um projeto de revitalização dos dessalinizadores. O projeto de instalação dos novos equipamentos tem o objetivo de promover o acesso à água de qualidade à região semiárida, tanto para o consumo da família quanto para a qualidade da lavoura.
Gomes explica que em governos anteriores foram instalados 276 equipamentos, mas muitos deles estavam precários pela falta de manutenção. Ele não soube explicar porque esse problema aconteceu. Agora, cada comunidade beneficiada com um dessalinizador terá um responsável por entrar em contato com a Sohidra e informar caso o equipamento venha a apresentar defeitos e precise de reparos.
"Foi feito um planejamento para revitalizar 120 dessalinizadores. Além disso, foram construídos mais abrigos e instalados mais equipamentos nas comunidades. Passamos a visitar os locais, a dimensionar o problema e a fazer a instalação de acordo com a demanda", conta. Além disso, Gomes ressalta que mais equipamentos serão instalados no Estado, seguindo a demanda das comunidades e a vazão dos poços profundos.
Conforme a Sohidra, algumas cidades deixaram de usufruir do equipamento devido a depredação feita pelos próprios moradores. Nas cidades de Forquilha, Madalena, Mulungu, Palhano, São Gonçalo do Amarante, Solonópole, Tabuleiro do Norte e Trairi, por exemplo, o relatório da superintendência indicava que muitos desses equipamentos não tinham condições de serem recuperados ou o poço estava obstruído. "Se não tem condições, não adianta fazer. Se o equipamento estava quebrado, é porque a comunidade não precisa", diz Demócrito.
O município que mais detém dessalinizadores é Russas, com 24 equipamentos, seguido de Canindé (13), Morada Nova (10) e Pentecoste (9). As demais cidades variam de um a sete equipamentos. Os critérios para que uma comunidade rural seja contemplada com um dessalinizador, segundo Gomes, é ter um poço perfurado pela Sohidra, ter o perfil de comunidade carente, dispor de energia elétrica e, principalmente, possuir teor de sal acima de 800mg/l. Este critérios irão determinar a vazão de água, variando de 200 a 1.800 litros de água por hora. Os dessalinizadores funcionam o ano todo, purificando a água retirada dos poços das comunidades no Estado. Os sais retirados da água são utilizados na criação de tilápias.
PESQUISA
Produto reduz teor de sais
Fortaleza Enquanto um maquinário para dessalinizar a água custa de R$40 mil a R$ 80 mil, outro, utilizando apenas recursos naturais e baseado em reações químicas, garante o mesmo resultado a um custo baixíssimo. A partir do uso de argila, a Policlay Nanotech Indústria e Comércio Ltda, empresa incubada no Núcleo de Tecnologia do Estado do Ceará (Nutec), usa um tipo de produto, o caulim, para diminuir as concentrações de cálcio e magnésio da água, elementos químicos que ocasionam o gosto salobro.
De acordo com o pesquisador e professor responsável pelo produto, Lindomar Roberto Damasceno, o problema relacionado à salinização é antigo. Pensar em alternativas viáveis para tornar a água pura é um meio de garantir a sobrevivência de famílias do Interior. "A ideia surgiu por termos percebido que alguns materiais pareciam ter potencial para solucionar esse problema de salinização. O que nós fizemos foi buscar a melhor forma e adequar as metodologias", salienta, destacando que uma das principais vantagens do método é a simplicidade, que o torna de fácil operação para qualquer comunidade.
Desta forma, o resultado foi visível: o caulim, tipo de argila ou material zeolítico que há cinco décadas é investigado, é capaz de diminuir o nível de sal da água. "O material apresentou a capacidade de reter essas espécies químicas. O que nos levou a aprofundar as pesquisas, culminando com a comprovação dos resultados. E o caulim pode, perfeitamente, substituir os dessalinizadores comercializados".
E a intenção é realmente esta: tornar o processo de dessalinização mais barato. O dessalinizador a que se refere o pesquisador funciona como um pó - embora não seja solúvel - que ao ser colocado na água, ocasiona reações iônicas, diminuindo o nível de sal. A previsão de comercialização está prevista para o início de junho. Segundo o gerente da Policlay Nanotech Indústria e Comércio Ltda, Jardel C. Rolim de A. Andrade, há a previsão de produzir até duas toneladas do produto. "Sabemos que existe a concorrência nacional e internacional, mas, ofereceremos um valor mais acessível".
FIQUE POR DENTRO
Concentração de sais
A água doce é um recurso natural limitado e finito. O Estado do Ceará, por ter mais de 80% do seu território inserido no semiárido nordestino, tem escassez desse recurso. Segundo critérios da Organização Mundial de Saúde (OMS), uma água com até 500mg/l de concentração de sais é classificada como água potável, até 30.000 mg/l é considerada salobra e acima deste valor, a água é considerada salina. A concentração salina da água do mar é da ordem de 33.000 mg/l. Salinização é a concentração progressiva de sais, provocada pela evapotranspiração intensa, principalmente, em locais de climas tropicais áridos ou semiáridos, onde normalmente existe drenagem ineficiente. Os solos apresentam sais em níveis diferenciados. Quando este nível eleva-se, chegando a uma concentração muito alta, pode prejudicar o desenvolvimento de algumas plantas mais sensíveis, ou mesmo impedir o desenvolvimento de praticamente todas as espécies.
No interior do Estado, são comuns fontes de água com alto teor de salinização, o que inviabiliza o consumo humano. Daí a importância dos dessalinizadores, para aumentar a oferta de água para as famílias sertanejas. Assim, o equipamento assume lugar relevante para melhorar a vida no Interior.
MAIS INFORMAÇÕES
Sohidra
(85) 3101.4705
http://www.sohidra.ce.gov.br/
regional@diariodonordeste.com.br
Mais informações
Laboratório de Físico-Química de Minerais e Catálise do Departamento de Química Orgânica e Inorgânica da UFC: (85) 3366.9436
MAURÍCIO VIEIRA
Repórter
Fonte: Diário do Nordeste
terça-feira, 9 de março de 2010
Falta de manutenção para 20% de dessalinizadores
Falta de manutenção para 20% de dessalinizadores
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