sexta-feira, 1 de maio de 2009

ALERTA EPIDEMIOLÓGICO

Ceará registra mais dois casos suspeitos de gripe suína

Representantes da Sesa, de hospitais públicos e privados, de laboratórios e da Infraero se reuniram para definir estratégias de contenção da doença no Ceará (Foto: Juliana Vasquez)

Ministro Pedro Brito garante que as chances de contaminação via portos são quase nulas (Foto: Kiko Silva).

Pacientes, mãe e filha, estão internadas no São José. Elas tiveram contato com parente moradora do Canadá que esteve aqui.

Duas mulheres, uma de 78 anos e outra de 38 anos, mãe e filha, foram internadas, às 18 horas de ontem, no Hospital São José (HSJ) com suspeita de gripe suína. A informação foi confirmada pelo secretário executiva da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), José Arruda Bastos, e pelo diretor do HSJ, Anastácio Queiroz. As duas estão em um apartamento, especialmente destinado para elas, sob monitoramento dos infectologistas do hospital.

O local foi isolado e o material de secreção nasal colhido pelo próprio Anastácio Queiroz e enviado ao Laboratório Central (Lacen) que vai encaminhá-lo ao Laboratório Evandro Chagas, em Belém, indicado pelo Ministério da Saúde como referência para o Norte e Nordeste do País. O resultado, se negativo, sairá na próxima segunda-feira.

A preocupação maior consiste no fato de as duas terem tido contato com a filha mais velha que mora no Canadá. A moça veio passar 15 dias em Fortaleza e já chegou com sintomas de gripe — febre, dores de cabeça e muscular e coriza.

O mais grave, reconhece o diretor do São José, é que, segundo as pacientes teriam ralatado ao enfermeiro que as atendeu, a filha residente no Canadá quando retornou para aquele país, na última segunda-feira, o seu estado de saúde teria se agravado.

“Eu mesmo irei tentar falar diretamente com o hospital, em Toronto, e confirmar se a mulher está mesmo com a gripe suína”, informou Queiroz. Se essa notícia, explica, for verdadeira, o Hospital São José terá que informar ao Ministério da Saúde sobre o fato e tomar todas as medidas cabíveis para monitorar as outras pessoas da família e até, toda a vizinhança que tiveram contato com a mulher residente no Canadá.

A mãe, de 78 anos, é a que inspira mais cuidados. Pela idade e pelas condições gerais, inclusive por ter sido vítima de Acidente Vascular Cerebral (AVC). Apresenta febre, dores pelo corpo, vômito e coriza nasal. A mais jovem tem um quadro geral mais estável.

As pacientes, contraíram a gripe no início da semana e não tiveram melhora. Então, decidiram procurar dois hospitais particulares de Fortaleza, na tarde de ontem. O primeiro, as encaminhou para outra unidade particular. De lá, o infectologista telefonou direto para o Hospital São José.

Anastácio Queiroz não confirma se a ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) destinado pela Sesa para o transporte de pacientes com suspeite de gripe suína as levou para o São José ou se foi o veículo do próprio hospital particular. “Chegamos a enviar uma ambulância daqui (HSJ), mas não foi necessário utilizá-la”, relata, não escondendo a preocupação com o surgimento dessas duas novas suspeitas no Ceará.

O infectologista adianta que, se o quadro das pacientes evoluir para a cura, como aconteceu com a advogada internada no Hospital São Carlos, na última terça-feira e teve alta na quarta-feira, elas deverão receber alta, sendo monitoradas pelos médicos até o resultado do exame.

Primeiro caso

O laudo do exame da paciente cearense que esteve internada no São Carlos será divulgado ainda hoje. O material coletado foi encaminhado ao Laboratório Evandro Chagas, em Belém, como orienta o Ministério da Saúde.

A paciente que tinha chegado da Flórida, nos Estados Unidos, com sintomas de gripe, está em casa, ainda sob cuidados médicos e sem receber visitas.

Se o resultado for negativo, explica o secretário Executivo da Sesa, Arruda Bastos, vai ser divulgado de imediato. Caso dê positivo, o exame será refeito para a confirmação da doença. A médica Fernanda Montenegro, do Lacen, explica que os procedimentos apropriados de coleta, transporte, processamento e armazenamento de espécimes clínicos são de fundamental importância no diagnóstico da infeção viral.

O material para o diagnóstico laboratorial são as secreções da nasofaringe (SNF) obtidas por meio de aspirador nasofaringe com auxílio de um coletor descartável ou por meio de swab combinado (oral mais nasal). Estas amostras, esclarece, devem ser coletadas preferencialmente até o quinto dia do início dos sintomas e transportadas em gelo reciclável até o laboratório para o devido processamento.

Para colher adequadamente o material, equipes do São José de Hospital Universitário Walter Cantídio estão sendo treinados pelo Lacen.

CONTENÇÃO
Ceará cria comitê de prevenção à doença

A cúpula da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa) se reuniu, ontem, com representantes de hospitais públicos e particulares de Fortaleza, do Laboratório Central (Lacen) e da Infraero. O objetivo foi traçar estratégias de monitoramento da gripe suína. O encontro aconteceu no Hotel Mareiro, na Avenida Beira-Mar.

Entre as medidas urgentes anunciadas, está a criação do Comitê Estadual de Prevenção e Controle da Gripe Suína para acompanhar possíveis casos da doença no Estado.

O coordenador de Endemias da Sesa, Manoel Fonseca Dias, que também coordena o comitê, comunica que representantes da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Ceará (Adagri), Lacen, Ceará Portos, Hospitais São José (HSJ) e Walter Cantídio (HUWC) fazem parte da comissão estadual de contenção.

A padronização de coleta de material para a realização de exames, treinamento de pessoal dos hospitais São José e das Clínicas para lidar com possíveis pacientes e casos suspeitos, além de colher a amostra da secreção nasal estão entre as atribuições do comitê.

“A mulher que havia sido internada em Fortaleza com suspeita de ter contraído o vírus da gripe suína foi a primeira pessoa incluída no monitoramento feito pelo comitê. Os dados foram remetidos ao Ministério da Saúde”, afirma o secretário Executivo da Sesa, Arruda Bastos, que representou o titular da Sesa, João Ananias. Ele acompanhou o governador Cid Gomes ao sobrevôo nas áreas atingidas pelas chuvas, na zona Norte do Estado.

Segundo Bastos, o comitê irá se reunir todas as terças-feiras, a partir das 14 horas, na sede da Sesa, para avaliar o andamento do Plano e tomar outras medidas urgentes.

O Comitê já decidiu que, a princípio, uma ambulância do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) ficará à disposição para o transporte de pacientes suspeitos da doença. “Se for necessário, outras ambulâncias serão destinadas exclusivamente ao serviço”, diz.

Também ficou definido que a Sesa divulgará, diariamente, Nota Técnica para atualização das informações, inclusive com o boletim da situação epidemiológica no Estado. “O Plantão Epidemiológico do Estado estará funcionando inclusive aos domingos e feriados, das 8 às 18 horas, para divulgação das notas e boletins”, adianta Arruda Bastos.

O Estado, confirma, recebeu do Ministério da Saúde 20 kits para tratamento de casos suspeitos. Entre os itens, o medicamento Tamiflu 75 mg, indicado para combater os sintomas da doença.

Dúvidas

Representantes de hospitais particulares apresentaram muitas dúvidas com relação ao procedimento nos casos suspeitos. “O que faremos: vamos atender de imediato ou deixar a pessoa na recepção, enquanto aguarda a remoção para o São José?”, indagou o infectologista do Monte Klinic, Ronald Pedrosa, que também atende no São José.

A orientação, explicou Manoel Fonseca, é informar rapidamente a Sesa que tomará as medidas cabíveis. “O melhor é colocar essa pessoa em uma sala sem contato com mais ninguém enquanto é providenciada a sua transferência”.

Os donos dos hospitais particulares se mostraram preocupados com a situação e querem ajudar, caso haja o surgimento de muitos casos. Nesse caso, Hospital São José e o Walter Cantídio não têm estrutura para tantos casos. A Sesa também poderá incluir o Hospital Waldemar de Alcântara, sugerido pelo presidente da Associação dos Hospitais Particulares do Ceará, Aramicy Pinto, como opção que oferece condições para reforçar atendimento.

BARREIRA
Anvisa reforça fiscalização nos portos

O ministro da Secretaria Especial de Portos, da Presidência da República, Pedro Brito, afirmou ser muito difícil o vírus Influenza Suína, transmissor da gripe suína, transpor a barreira sanitária brasileira via portos. Segundo explica, o vírus tem uma incubação de sete dias para apresentar os primeiros sintomas e como uma viagem de navio costuma ser mais longa, as chances de algum passageiro ficar doente e desembarcar são quase nulas.

“A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) fiscaliza todo o navio antes que alguém saia dele de forma rigorosa”. Se alguém apresentar os sintomas de gripe, todos no navio ficarão em quarentena obrigatória por lei federal. Mesmo assim, garante ele, as ações de fiscalização foram reforçadas.

Para evitar que a gripe chegue aos Estados brasileiros, ressalta, a Anvisa adotou medidas mais rigorosas.

De acordo Pedro Brito, muitas medidas preventivas já vinham sendo tomadas desde 2007, por causa da gripe aviária. “A partir de amanhã (hoje) vamos intensificar a identificação da origem do navio”, afirma. O comandante vai ter que informar se existem casos de indícios de infeção, informa ele, como febre e dor de cabeça, no momento da recepção.

Navios que vierem de áreas de risco vão passar por uma fiscalização de técnicos da Anvisa antes de entrarem no Porto. “A embarcação só vai entrar no porto se a Anvisa liberar”, garante o Ministro. “Mas se o navio já tiver passado por inspeção da Anvisa recentemente em um porto brasileiro, pode entrar normalmente”.

Além disso, diz, todo o lixo que vem para o porto de qualquer país deve ser incinerado. ”O plano de contingência contra a gripe aviária, em parceria com o Hospital Oswaldo Cruz, continua em vigor”.

LÊDA GONÇALVES
Repórter
http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=634912

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