terça-feira, 21 de setembro de 2010

Insegurança causa pânico em moradores

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Centro de Novo Oriente, onde comerciantes já foram assaltados mais de uma vez. A violência é marcante

INHAMUNS E VALE DO JAGUARIBE (21/9/2010)

FOTO: SILVÂNIA CLAUDINO

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Viatura com pneus furados na porta da unidade policial de Milhã, a última cidade atacada por bandidos. É o retrato da situação enfrentada por policiais nas pequenas cidades
FOTO: ALEX PIMENTEL

21/9/2010

Vendas em queda e falta de policiais são lados da mesma moeda em cidades do Interior sem segurança adequada

Novo Oriente. Pânico e insegurança. Esta é a realidade deste Município, considerado o mais perigoso na região dos Inhamuns e Sertões de Crateús. O medo é evidente. Basta um pequeno diálogo com populares para se perceber o estado de insegurança, que já prejudica a vida das pessoas e influencia em mudanças na rotina dos munícipes. Depois do atentado que vitimou dois policiais na praça central da cidade, no final de julho, Novo Oriente silencia cedo da noite. Depois das 19h, as pessoas se recolhem às suas residências. "A cidade fica praticamente sem ninguém nas ruas a partir desse horário", diz a estudante Zilda Sousa.

Na verdade, Novo Oriente há muitos anos deixou de ser considerada um Município tranquilo, com características comuns das cidades interioranas. Segundo os moradores, essa realidade pacata perdurou até há uns 15 anos. Daí em diante, começaram a acontecer furtos, assaltos e outras ações criminosas, até chegar à situação gritante de insegurança atual, vivida a partir dos últimos quatro anos.

Assaltos à mão armada, arrombamentos a comércios e residências, assaltos nas estradas que dão acesso aos municípios da região e até aos carros que fazem horário para o Interior fazem parte da situação de violência do Município. Os comerciantes são os que mais se ressentem, tanto pelo medo de assaltos quanto pela diminuição de consumidores na cidade. A lista de vítimas de assaltos no comércio é extensa: Banco do Brasil, casas lotéricas, banco postal e muitas lojas.

"Muita gente deixa de vir para a cidade fazer as suas compras com medo e têm muitos que já estão indo fazer suas compras e pagamentos em outros lugares, como Crateús", aponta o ótico Heleno Cruz, que atua no ramo em vários municípios da região, afirmando também que a violência ocorre "porque são poucos policiais aqui". A maioria dos comerciantes já foi vítima de arrombamentos, roubos e até assaltos à mão armada. Lisboa Mendes, proprietário de mercantil na rua principal da cidade, já foi vítima de duas ações criminosas dessa natureza, a última há três meses. "Fiquei por duas vezes com o revólver ao pé do ouvido", lembra. Diz que não desiste do comércio porque precisa sobreviver e criar os filhos, mas trabalha com muito medo. "A violência complicou com o desarmamento e fiança, pois o cidadão ficou desprotegido e os bandidos sabem disso". Diz que o último assalto que sofreu o bandido havia sido solto há oito dias no Município de Independência mediante pagamento de fiança.

A insegurança se estende também à zona rural de Novo Oriente. José Morais, comerciante na localidade de Barra, diz que os últimos acontecimentos também estão refletindo no Interior do Município. "Estamos todos amedrontados com a situação e no Interior também tem acontecido assaltos aos carros que transportam as pessoas e no comércio". Ele também promove festas na zona rural e diz que a população está comparecendo bem menos aos eventos devido ao medo generalizado.

Para a Polícia, há razões lógicas para a violência em Novo Oriente. Ricardo Savoldi, delegado Regional de Polícia Civil, atribui a insegurança e as ocorrências de assaltos e criminalidade ao fato do Município estar localizado em região de fronteira, o que facilita a ação e fuga rápida dos bandidos. "Devido ao fácil acesso, eles chegam ao Piauí em questão de minutos". Aliado a isso, cita como dificuldade o efetivo de policiais na cidade: "hoje possui três policiais militares por dia, seria preciso uns nove", diz. Avalia que com o funcionamento da Delegacia de Polícia Civil que está sendo construída na cidade "a situação irá melhorar, pois será mais fácil manter a ordem e fazer um trabalho preventivo".

Sem policial

Se houver um assalto no correspondente bancário em Ererê, cidade que não tem agência bancária propriamente dita, ainda assim se pedirá reforço aos municípios vizinhos. O Município tem pouco mais de sete mil habitantes, é pequeno e pacato, mas nem por isso a população se sente tranquila, quando o tema é segurança pública.

Se o assunto é muito dinheiro, tem que ir para outro banco; se é crime grave, possivelmente se tem o reforço do Batalhão de Polícia Militar.

No destacamento policial, quatro militares, um número muito pequeno mas nem tão desproporcional de outros Municípios na mesma região, que contam com cerca de um policial para cada mil habitantes - a ONU recomenda a proporção de um policial para cada 250 habitantes.

Outro Município que pede por segurança é Palhano, também no Vale do Jaguaribe. Possui agência do Banco do Brasil, e quando houve um assalto no ano passado, com tiros disparados para apavorar os funcionários e clientes, a Polícia já chegou sem poder ter noção do rastro dos bandidos.

Em São João do Jaguaribe, há destacamento PM, mas subordinado à Companhia Militar de Limoeiro do Norte. Outras ações da Polícia Civil, como investigação por crimes de homicídio, dependem do dia em que está a delegada regional, ou da disposição dos PMs, que, muitas vezes, acumulam trabalho.

SERTÃO CENTRAL E ZONA NORTE

Invasões de quadrilhas são constantes

Quixadá. É praticamente a mesma a situação da segurança pública em cidades com menos de 20 mil habitantes como Banabuiú, Choró, Ibaretama, Ibicutinga, Solonópole e Milhã. O convívio ainda seria pacato não fosse um detalhe: as invasões cada vez mais constantes de quadrilhas. Além da surpresa, o número de bandidos é sempre muito superior ao de policiais. Não bastasse a violência, a desvantagem gera uma sensação de impotência diante dos inimigos da sociedade. Esse é o diagnóstico de policiais, civis e militares no Sertão Central.

Às vésperas da aposentadoria, o cabo PM, Francisco Neuton Dantas, se diz aliviado com o dever cumprindo. Espera ao menos o reconhecimento da sociedade e dos superiores. Ao longo dos quase 30 anos de carreira, herda apenas um lar para a família, a educação para os filhos e um Chevette 97. "Bem diferente do candidato a deputado federal Ney Santos, acusado de estelionato e lavagem de dinheiro do PCC, preso com uma Ferrari, de R$ 1,2 milhão", diz, comparando ao salário de R$ 1.300,00 que recebe por mês.

Atualmente, o cabo Dantas está lotado no destacamento de Ibaretama, a 26Km de Quixadá. Ele espera melhor sorte para os colegas de farda. Um salário digno ao esforço e aos riscos como também melhores condições de trabalho. O efetivo não é suficiente para atender a área urbana e a zona rural ao mesmo tempo. O último assalto registrado na cidade, semana passada, a uma agência lotérica, somente ocorreu porque sua equipe estava com presos no Fórum do Município. Não dá para proteger todos ao mesmo tempo.

Assim como seu superior, o soldado PM, Moisés Rebouças Monteiro, não reclama da Corporação. Lamenta, porém, a forma desigual como são tratados em relação a outras categorias. Não recebem qualquer incentivo econômico pela prolongada jornada de trabalho. São, em média, 90 horas semanais. O dobro de um trabalhador normal. A formação também não é valorizada. No 7º semestre de Direito, o soldado Monteiro foi obrigado a interromper os estudos quando foi destacado para Ibaretama, há quatro meses.

O inspetor Leorne Menescal, chefe da Unidade de Polícia Civil de Ibaretama, concorda com os PMs. Aparentemente, as pequenas cidades têm problemas menores, mas necessitam do mesmo auxílio disponibilizado aos grandes centros urbanos. Além de salários justos e capacitação contínua, precisam de suporte operacional adequado com mais armamento e viaturas melhores. Com a proximidade da população, se sentem na obrigação de servi-la a qualquer custo, nem que tenham que arriscar a própria vida. "Quem age assim é por amor ao ofício. Nossos gestores precisam reconhecer isso".

Frustração

Passados 45 dias do assalto à agência do Banco do Brasil, desta cidade na região Norte, a população ainda sofre com a frustração de viver numa cidade onde a segurança é fragilizada. A vidraça da agência atingida por tiros disparados durante a ação da quadrilha no dia 6 de julho, apesar de estilhaçada, ainda permanece no lugar. Na sede do destacamento da Polícia Militar, onde também abriga a cadeia pública da cidade, apenas dois policiais permanecem de plantão. Em dia de maior movimentação, o número aumenta para três. "A situação aqui permanece como antes, bastante vulnerável, sem perspectiva de melhores dias", reclamava Carlos Monteiro Paiva, que saía da agência, na manhã de sábado.

Na porta do destacamento, uma vítima da violência sem fronteira. O agricultor, João Batista Alves, tinha ido tentar receber uma motocicleta que havia sido levada de sua residência por bandidos fortemente armados. Ele conta que, há 15 dias, cerca de quatro homens armados com escopetas e pistola invadiram a sua propriedade, na localidade de Boa Esperança, em Cariré. Sob ameaças, levaram tudo que encontraram. "Era por volta das 6h quando eles anunciaram o assalto. Jamais imaginaria que morando bem distante da cidade, passasse por uma situação dessas", contou João Batista. A motocicleta levada pelo bando foi utilizada no assalto contra a agência dos Correios de Hidrolândia. Parte da quadrilha foi presa, mas o agricultor teme que eles voltem. Após o assalto à agência bancária, o atendimento ao público foi suspenso por mais de 20 dias, obrigando a população a se deslocar até Guaraciaba do Norte. Durante esse período, o comércio local amargou prejuízo.

ASSALTO

"Já fiquei duas vezes com o revólver ao pé do ouvido. Perdi as contas de quantas vezes fui assaltado"

Lisboa Mendes
Proprietário de mercantil no Município de Novo Oriente

Reportagens:

Silvânia Claudino/Melquiades Jr.
Repórter/Colaborador

Alex Pimentel/Wilson Gomes
Colaboradores

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