Penso, penso e, algumas vezes, chego a duvidar: é verdade que estou passando dos 70 anos? Isso mesmo, 72, dia 6 de julho. Cheguei a Porto Velho com 30 e, naquele tempo, ainda era chamado de jovem. Os anos passaram e o tempo corre. O tempo voa e quando a gente menos espera a velhice chega. A verdade é dura, perversa e o consolo é o que dizem, para agradar, os amigos: “você tem a cara de cinqüenta...” - Muita gente diz isto, mas eu gostaria que fosse o contrário: 50 com a cara de 70.
Não acho que estou velho, não. Idoso, nunca! Alguns cabelos caíram, outros mudaram a cor, a hipertensão alterou, a memória complicou, algumas dores nas juntas apareceram, mas, com tudo isto, acho que estou bem e que tenho muito tempo de estrada, ainda, para caminhar. Ir embora desse mundo não me agrada, mas, também, não atemoriza. No andar de cima deve ser bem melhor. Para quem merece, lógico. Chegou a hora, pronto, é só ligar o botão de partida e viajar. O que não quero nem pensar é sair deixando todas as pessoas que amo, é partir sem ver a vida e a continuação do sucesso dos meus filhos, dos netos que virão. É deixar as coisas boas do mundo - elas existem, apesar de todas as outras. É deixar a família, os amigos. É parar de fazer coisas que gosto: ler e escrever, ouvir música, por exemplo. É isto. Mas o que fazer se a vida é assim, se não há como mudar a ordem natural das coisas? Apesar de tudo, sou dos consideram a vida bela. Não comungo com Freud, que revelou que “a vida não tem sentido”; nem com Bob Dylan, “a vida é uma piada”; concordo, sim, com Einstein que acha que o sentido da vida “é o amor e prestar serviços aos demais”. Mas a vida passa, bem depressa e, como diz o poeta, a gente vai levando, levando, a vida vai passando e sem que ninguém perceba, o tempo voa e a viagem termina.
Podem me chamar de idoso, velho, não fico brabo. Nas filas de banco, quando tento ficar na geral, dos normais, meu lugar é, por alguém, indicado. No meio das grávidas, dos deficientes e dos idosos. Sete e dois, exatamente. É muito tempo, repito, aturando as coisas complicadas deste mundo velho rabugento e violento e, pouco tempo para tentar fazer coisas boas. Retificando o que disse: o mundo não é complicado, não. Ele foi criado por Deus para ser um paraíso. Complicado é o povo que mora nele. Os que passam, aqui, uma temporada curta, e pensam que são donos da terra. Nós, esses inquilinos malucos a quem o Criador delegou a missão de administrar e cuidar bem de todo esse patrimônio, é que, infelizmente, fizemos e continuamos fazendo coisas erradas. Diferente do que deveria ser feito. Tudo ao contrário do que determinou o Pai eterno, o criador de todas as coisas. Inventamos a guerra, a violência, a maldade, o ódio, falsidade, a inveja e criamos há pouco tempo, coisas feias com nomes também horrorosos, como seqüestro, estupro, pedofilia, corrupção, picaretagem, ladroeira e muitas outras que somente cabem no dicionário do mal.
Maaas... vamos sair dessas histórias horrorosas e voltar ao meu 6 de julho: foi nesse dia que há muuuuiiitos anos, lá no sertão do Ceará, nasceu um menino magro de canelas finas que ao chegar ao mundo recebeu o apelido de Nêgo porque era mais escurinho do que os outros 13 irmãos. Magro, porém bonito. Bonito e muito amado. Honestidade, honradez, dignidade, isto não faltava no povo daquela terra bendita, nos confins nordestinos, no berço (ou na rede), onde nasci e vivi menino. O menino que um dia, muito tempo depois, descobriu uma terra chamada Rondônia, bem diferente do seu sertão brabo onde nasceu. Passou a amar a nova terra como sendo sua e, vivendo nela, não mais voltou ao chão natal. Só, quando pode, para uma espiadinha rápida, ver o filho, os parentes. Aqui fez amigos, plantou árvores, criou filhos e não escreveu um livro, mas juntando tudo o que já rabiscou dá para filtrar e o que sobra construir um livro de bom tamanho. Um livro que possa mostrar que os anos passam e podem nos tirar a juventude, a beleza e a força física, mas nos transmitem experiência de vida e a perenidade do amor. Mostrar que cultivando a simplicidade, a humildade, podemos descobrir que os problemas serão bem menores. Os grandes a gente reduz e os pequenos a gente esquece. Mostrar que com o passar do tempo, veremos que a beleza física é uma ilusão e que com a mente e o espírito preparados, poderemos, ao chegar ao outono da vida, entender que a verdadeira beleza existe.
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