quinta-feira, 20 de maio de 2010

Renovado contrabaixo

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Michael David, de 12 anos, foi a maior revelação do processo seletivo para o festival: precoce talento e influências de Arthur Maia a Jaco Pastorius
FÁBIO LIMA

FESTIVAL (13/8/2008) DN

O I Festival Cover Baixo em Fortaleza começa hoje, com lançamento de livro e uma mostra de jovens instrumentistas. Entre eles, Michael David, o Pipoquinha

Quatro dias dedicados a colocar em destaque um instrumento nem sempre tão percebido pelo público, mas fundamental para a musicalidade, em diversos estilos e formações. Começa hoje o Festival Cover Baixo, evento promovido pela revista especializada de mesmo nome e que pela primeira vez acontece em Fortaleza. Músicos, estudantes e o público em geral poderão conferir, de hoje a sábado, no Sesc Senac Iracema, ´workshows´ com instrumentistas reconhecidos, como os cearenses Miquéias dos Santos, Nélio Costa, Jerônimo Neto e Adriano Giffoni, os potiguares Sérgio Groove e Júnior Primata e o paulista Celso Pixinga - arregimentador nacional do festival.

Por aqui, o evento ganhou corpo graças a uma sugestão do quixadaense Adriano Giffoni, hoje um dos baixistas mais requisitados por grandes nomes da música popular brasileira, e ao trabalho da professora de canto Marta Carvalho, que encarou a tarefa da produção. Inclusive articulando grande parte das escolas de música da cidade, em uma parceria citada como diferencial e caminho para outros possíveis projetos em conjunto, entre as instituições de ensino de música, que se multiplicam na capital cearense, em uma demonstração do grande interesse de jovens pelos caminhos da música.

Uma amostra dessa renovação poderá ser conferida neste primeiro dia de festival, em que ganham espaço nove jovens instrumentistas, selecionados em audição pelos professores envolvidos com a produção do evento. Cada um terá duas músicas para mostrar o que sabe. As atividades começam às 18h e incluem a apresentação do baixista e professor Dudu Freire, lançando a apostila ´Assunto Grave´ - um guia prático para iniciantes, a partir da experiência nas salas de aula.

Na seleção dos novos nomes, realizada no Conservatório Alberto Nepomuceno, uma surpresa. O candidato mais jovem foi o que mais chamou atenção dos professores. Diante do menino baixinho, magro, a primeira interrogação era inevitável: ele pode com o baixo? Bastaram as primeiras notas para dissipar essa e outras dúvidas. Estava ali um jovem de talento diferenciado, com conhecimento e prática do instrumento bem além do que seus 12 anos poderiam fazer supor.

´Todo mundo ficou de queixo caído durante a audição. O menino chamou atenção de todo mundo´, diz a organizadora Marta Carvalho. O menino, no caso, é Michael David Lima Silva, conhecido por Pipoquinha. O apelido, assim como o gosto pelo contrabaixo, foram herdados do pai, o músico Elisvan Silva, o Pipoca, baixista da banda de forró Cheiro de Menina, mas apaixonado pela música instrumental.

Precoce desenvoltura

´O Michael começou a tocar violão com nove anos. Com 10, já passou pro baixo´, diz Elisvan, baixista com 16 anos de experiência de Solonópole e há dois anos residente em Fortaleza. ´Praticamente ele começou só, pegando o violão, depois o baixo. Eu fui só tirando algumas dúvidas´, comenta o pai, sobre o filho que nunca teve aulas formais de música. ´Eu vivo só de música, o que não é fácil por aqui. Ele tem o patrocínio da De Oliveira, uma marca de contrabaixos, de Natal, e estamos batalhando uma bolsa pra ele, no Conservatório ou em alguma outra escola. Ele tem vontade de estudar, quer mesmo seguir na música´, garante, pontuando o desejo de ver o filho lendo partitura - ´como um músico completo´.

A precoce desenvoltura de Michael com o contrabaixo é atribuída por Elisvan ao convívio musical caseiro. ´Ele cresceu escutando música instrumental, esse é o interesse dele, desde cedo. Ficava vendo as vídeo-aulas que eu tenho... Quando vi, ele já tava tocando de uma forma fantástica pra idade dele ´, destaca. ´Todo mundo fica impressionado´.

A reportagem do Caderno teve a oportunidade de se associar a esse espanto no último dia 1º, quando do show do grupo cearense Marimbanda e do baixista niteroiense Arthur Maia, no Anfiteatro do Centro Dragão do Mar, pelo III Festival BNB da Música Instrumental. Apresentado pela professora Marta Carvalho, Pipoquinha parecia ter ainda menos que seus 12 anos.

Para ele, só por assistir ao show de Arthur Maia, sua maior referência como baixista, já seria uma noite especial. Mas o menino foi além. De tanto vibrar com o shows nas primeiras filas, foi chamado ao palco por Arthur, ao final do show. E não se fez de rogado: assumiu o contrabaixo do niteroiense e segurou o mesmo groove que Arthur vinha levando, com sua banda. Logo uma multidão desceu as arquibancadas, na rapidez de flashes e câmeras de celular registrando a canja inusitada, de uma criança tão senhora de si diante do auditório lotado. O espanto só foi menor que a acolhida para o menino, em demorados aplausos.

´O Michael sempre foi muito fã do Arthur Maia. Agora que a gente criou uma certa amizade, está mais ainda´, destaca Elisvan. ´O Arthur gostou muito dele. Foi um momento em que as pessoas puderam conhecer o Michael. Ele já tinha participado da Feira da Música do ano passado, e até tocou no DVD do Vicente Nery, mas ali foi uma noite especial´, complementa, acrescentando que até convite para tocar no Japão o menino já recebeu. ´Estou com uma negociação com uma produtora de São Paulo, que quer levar ele pra tocar num programa de TV no Japão, sobre garotos superdotados na música. Estão querendo pegar um músico criança de cada país, pra formar uma banda. Estamos ainda vendo, mandando material, mas acho que tem 70% de chance da gente ir´.

DALWTON MOURA
Repórter

Mais informações:

I Festival Cover Baixo de Fortaleza. Workshows de 13/8 a 16/8, no Sesc Senac Iracema (ao lado do Centro Dragão do Mar). Ingressos: R$14,00 (meia a R$7,00). Informações: 3452-1242.


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