sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O Desespero Incessante de uma Juventude sem Deus

Pr. Dorisvan Cunha

Grande parte da juventude do século XXI está perdida! Há um clima de decomposição moral e espiritual pairando sobre a moçada de nossos dias. Há poucos dias contemplamos com tristeza a morte precoce da alcunhada “diva rebelde” Amy Winehouse que foi encontrada morta aos 27 anos por overdose. Amy chegou ao fim de uma vida angustiada assinalada sucesso, reconhecimento, escândalos, internações, fama e glória. Na verdade, tal episódio é apenas a manifestação visível do que acontece com milhares de jovens e adolescentes ao redor do mundo.

Do ponto de vista filosófico, particularmente creio que esse processo de deteriorização vem desde os dias do Iluminismo. Dr. R.C.Sproul escreveu um livro cujo título em inglês é “The Consequences of Ideas” (que está traduzido como Filosofia para Iniciantes). Nesse livro ele mostra como a cultura ocidental está soerguida sobre idéias de homens como Platão, Aristóteles, Agostinho, Kant e Nietzsche. Sproul expõe de forma interessante como as idéias desses pensadores nos afetam de modo tão substancial. De fato as idéias têm muitas conseqüências, e creio definitivamente que a geração do século XXI é conseqüência de idéias.

O Processo De Secularização Do Ocidente

Emmanuel Kant é o grande divisor de águas. Para ele Deus está pralém da possibilidade do conhecimento humano e não podemos alcançá-lo. Deus está separado de nós e não se imiscui nas tramas das relações humanas. Com essa visão agnóstica da realidade Kant retira Deus da história, e o desespero começa a aparecer.

O período que se segue a Kant é de profunda transição no pensamento ocidental, especialmente nos princípios teológicos e morais do cristianismo. Jesus Cristo, o Eterno Filho de Deus, passa a ser visto apenas como mestre de grandes qualidades morais. É o liberalismo teológico corroendo as bases do cristianismo histórico.

Charles Darwin publica em 1859 o seu famoso livro “A Origem das Espécies”. Com sua teoria, proporciona ao homem a possibilidade de se ver como “descriado”, produto do tempo mais o acaso. Com isso “abala” a teoria bíblica da criação do homem e da natureza; a Bíblia cada vez mais perde espaço e fica desacreditada entre as “elites intelectuais”.

Karl Marx aparece afirmando que a religião é o ópio do povo. Freud mostra ao mundo que Deus nada mais é do que uma projeção da imagem paterna impregnada desde cedo na mente do ser humano. Se não bastasse tudo isso aparece no século XIX um jovem tomado de ódio pelo cristianismo. Seu nome? Friedrich Nietzsche (1844-1900). Ele declara a morte de Deus e a morte da verdade. Dele, os jovens do século 21 herdam a doutrina do super-homem. O super-homem segundo Nietzsche é um ser corajoso, rebelde, imortal, ateu, violento, tirano, egoísta, agarrado à terra sem nunca levantar os olhos para os céus.

Para Nietzsche, Deus é apenas uma criação imaginária dos povos fracos; Dr. Luiz Sayão, diretor acadêmico do seminário Servo de Cristo, afirma que para Nietzsche “a fé cristã elogia o pobre, o humilde, o necessitado e destina o rico e poderoso à condenação; a religião era, portanto uma arma ideológica dos miseráveis e inferiores contra os aristocratas e inferiores”.[1] Foi assim que os seres humanos “expulsaram” a Divindade do convívio diário dos homens e as elites intelectuais modernas deram as costas para o Deus Eterno.

O Drama Terrível

A partir daí a humanidade tem que encarar um problema terrível, a saber, a “morte” do Deus judaico-cristão e as conseqüências dessa ousada declaração. Ou seja, a expulsão de Deus traz consigo a morte dos valores absolutos, posto que estes só podem encontrar referenciais de afirmação nos preceitos absolutos do Deus da Palavra.

A proposta de Nietzsche, portanto, implica na queda de todos os valores morais da cultura ocidental. Como disse Sproul, sem Deus “todos os valores antigos tomados com grande fervor na história da cultura ocidental perdem sua vitalidade e validade”.[2] Assim, nossa juventude está perdida porque se encontra sem chão e sem referencial absoluto de existência, posto que o Deus Verdadeiro está fora de cogitação.

Nietzsche levou sua crença a sério. Ele ensinou à sua geração o que significa “Deus não existir”. Ensinou aos jovens como deve ser o perfil de um menino ou de uma menina que assume o niilismo[3] absoluto. Ele não apenas colocou na boca de Zaratustra a declaração de que Deus está morto,[4] mas também procurou viver coerentemente com sua crença. Juntamente com o decreto da morte de Deus ele decretou a falência da moralidade cristã, restando para as gerações posteriores apenas a “nova moralidade” fundamentada na rebeldia do super-homem.


Jovens do Século XXI: Filhos de Darwin e de Nietzsche

A pergunta que deve ser feita hoje, no século XXI é: o que isso tudo tem a ver com os jovens de hoje? O que isso tem a ver com a juventude afundada nas drogas e na prostituição? Em que isso afeta seu filho que vive alucinado em busca de satisfação para a vida? O que isso tem a ver com jovens do centro de São Paulo, do Recife, do Rio de Janeiro, de Belém, de Marabá que se sentem perdidos existencialmente? Ou, como colocou Luis Sayão: como isso afeta diretamente a minha vida? A resposta é: afeta de muitas maneiras!

A conseqüência dramática do sistema de vida proposto pelos filósofos dos séculos XIX e XX está percebida no advento de uma sociedade pluralista, relativista, hedonista, individualista, sem verdade, sem valores, sem regras, sem lei e sem legislador...literalmente sem nada (niilista). Esta é a razão da perdição existencial da menina e do menino do século XXI. Esta é a causa do aumento da violência, do alto índice de abortos, do mergulho definitivo no mundo das drogas, da pulverização da família, da rebeldia homossexual, etc. Para compreender melhor, atente no questionamento do Filósofo cristão Willian Craig:

Quem num mundo sem Deus julgará quais valores são corretos e quais valores são errados? Quem se levantará para afirmar que molestar crianças e estuprá-las é um erro? Quem julgará que os valores de Adolf Hitler são inferiores aos de um santo? Quem há de dizer que o estupro é um crime? sob que critérios se edifica uma moral numa existência sem absolutos? Que juiz determinará que o Mal é o mal e que o Bem é bom? E se isso acontecer, por que aceitar isso para vidas que são coincidências? Se a vida é aberração, não há por que dignificar o homem, a moral e a família. Não há também por que ser poeta, pintor, filósofo, pai e homem de moral e de boas condutas num mundo sem Deus.[5]

A “expulsão” de Deus é o drama da nossa geração! Sem Deus a moral está perdida e o sentido da vida fica obscurecido. Eis a tragédia do jovem pós-moderno! Hoje, em pleno século XXI, com toda a sofisticação da tecnologia, estamos diante de uma geração sem responsabilidades e sem valores, e “um universo sem responsabilidade e sem valores é incalculavelmente terrível.”[6] Constata-se com isso que “a maior contribuição dos Niilistas para a nossa geração foi apontar as nítidas conseqüências do que seria uma vida sem a existência de Deus”. [7]

Estou convencido de que a declaração da “morte de Deus” criou um vazio na geração do século XXI. Os jovens pós-modernos são filhos de Darwin e de Nietzsche, por isso estão perdidos existencialmente com um vazio do tamanho de Deus. Os valores morais da civilização ocidental caíram com a queda dos princípios cristãos. Agora a juventude está numa busca desesperada por um sentido mais profundo. As opções oferecidas são: sexo, droga e rock-and-roll. Mas, dramaticamente, estas coisas são pequenas demais para alimentar almas com aspirações eternas.

Nietzsche ensinou nossos jovens a serem loucos e rebeldes, mas não os ensinou como sair deste estado de morte e alienação. Nietzsche apresentou para a nossa geração o “verdadeiro” sentido da vida humana encarnado no Super-homem: “Eu vos apresento o super-homem! O Super-homem é o sentido da terra”12, porém ele não advertiu a nossa geração que os seguidores de sua proposta morreriam alucinados e desesperados.

A Orfandade Existencial do Jovem no Século XXI

A juventude de nossa coletividade histórica precisa de valores e tenta desesperadamente encontrar a âncora da vida. Mas, essa mesma geração “abandonou” o Deus da Bíblia e abraçou a proposta insana de Charles Darwin e Friedrich Nietzsche, por esta razão está angustiada. A Ciência autônoma e a racionalidade que prometeram proteção não trouxeram, contudo, explicação para os dramas mais profundos da raça. Desta maneira, nossos jovens estão sem Deus, sem acreditar nas ciências, e sem saber o que fazer da vida: a juventude está sozinha. Ou nas palavras de dois seus profetas: “está tudo morto e enterrado agora” e “o acaso é quem vai te proteger...”[8]. Lamentável Geração!

Deus: A Única Esperança da Nossa Geração

A única esperança para esta geração está em Deus. As respostas que procuramos estão na Verdade do Evangelho. Somente Alguém Eterno pode responder às aspirações eternas do jovem do século XXI. Agostinho de Hipona, cansado da vida desregrada e sem sentido, entendeu que nossa alma foi criada para Deus e só encontrará satisfação quando for satisfeita Nele. Os puritanos Ingleses compreenderam muito bem essa verdade, e por isso a primeira pergunta do Breve Catecismo de Westminster é: qual o fim principal do homem? A resposta: “glorificar a Deus e gozá-lo para sempre”. Nós nascemos para Deus, e isso deve se constituir na razão suprema da vida humana.


O Sentido de Missão do Jovem Cristão no Século Xxi

Se quisermos de fato mudar a história da nossa geração; se queremos ser relevantes para a nossa época; se estamos interessados em virar este mundo de cabeça para baixo e sacudir as estruturas dessa sociedade falida, assim como fizeram os apóstolos do século 1º e os reformadores do século XVI, então precisamos trazer de volta, de forma corajosa e destemida, os princípios do cristianismo histórico revelados na Palavra de Deus. Precisamos de jovens corajosos que abram a boca e gritem: “não me envergonho do Evangelho”. Jovens como o moço valente e destemido descrito por John Banyan que chega ousadamente e diz: “coloque meu nome, senhor”[9]. Precisamos de meninos e meninas conscientes do seu papel e convictos de que o Deus da Bíblia é a resposta; gente que sabe que o Deus Eterno está aí e falou a nós através da Verdade do Evangelho. Pessoas com a certeza de que Deus não nos abandonou, de que Ele não está calado, mesmo que os homens tentem expulsá-lo daqui.

Concluo essa reflexão parafraseando Luiz Sayão, fazendo um apelo para a cristandade atual, especialmente a juventude cristã: “é necessário parar de brincar de ser crente. Precisamos conhecer a situação presente de modo a sermos capazes de sair desse esquema. Cada geração tem seu desafio... eu, como jovem cristão, preciso escolher qual será a razão da minha vida. Se quero usar meus talentos para o reino de Deus preciso começar a agir hoje, pois a morte me aguada. Se sigo a postura mundana de gastar a vida “se divertindo”, ficando rico, buscando fama, não sou digno do nome de Cristão”[10].

E não esqueça: "A existência de Deus é o elemento principal na construção de qualquer visão de mundo. Negar essa premissa mestra significa içar as velas para a ilha do niilismo. Esse é o continente mais escuro da mente obscurecida--o paraíso final dos tolos.” [11]

Avante, jovens de Cristo! Deus é a nossa esperança!

Que Deus levante jovens de aço para confrontarem este mundo com a Palavra da Verdade.

Por Cristo e Seu reino.

Pastor Dorisvan Cunha, é pastor da I.P.B De Marabá no Pará, aqui em Solonópole temos Igreja Presbiteriana do Brasil, localizada na BR 226, próximo ao Ponto da Economia, na responsabilidade do pastor Zaqueu.

[1] SAYÃO, Filosofia prática para cristãos, p.24.

[2] SPROUL, Defendendo sua fé, p. 138.

[3] Niilismo: conceito filosófico que significa basicamente “Redução a nada”; é o ponto de vista segundo o qual nada existe de absoluto. Sem dúvidas isso afeta diretamente as mais diferentes áreas da vida humana: literatura, ciência, arte, política, ética, moral e religião. Os Niilistas desvalorizam tudo o que é absoluto e decretam a morte do sentido. Para eles os valores tradicionais da fé cristã devem ser sacudidos e posto em discussão. Assim, a superfície das verdades e dos valores tradicionais está despedaçada e agora fica difícil prosseguir no caminho e avistar um ancoradouro seguro.

[4] “Zaratustra, porém, ao ficar sozinho falou assim ao seu coração: Será possível que este santo ancião ainda não ouviu no seu bosque que Deus já morreu?” (NIETZSCHE, 2002. p. 25).

[5] CRAIG, A Veracidade da Fé Cristã: Uma Apologética Contemporânea, p. 61.

[6] CRAIG, A Veracidade da Fé Cristã: Uma Apologética Contemporânea, p. 67.

[7] SPROUL, Defendendo sua Fé, p. 138.

[8] Trechos das músicas “Perfeição” de Renato Russo e “Epitáfio” do Titãs.

[9] BANYAN, O peregrino, p. 60. Minha sugestão é que você leia todo o livro.

[10] SAYÃO, Filosofia prática para cristãos, p.53.

[11] SPROUL, Filosofia Para iniciantes, p.166.

Pastor Zaqueu.

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